Não sou escritora, e esse texto não tem, nem de longe, relação com o que eu pretendia expor nesse blog. Mas é algo que preciso.
Eu sou tão, TÃO nova, mas já digo: é engraçada a vida, né? A gente vai embora pra pessoas novas, mas não tem como abandonar algumas que passaram. Pelo menos eu imagino não conseguir. Tem gente que consegue, querendo ou não, abandonar e/ou esquecer essas pessoas que criaram, se preocuparam e acompanharam o nosso sofrimento, mesmo não conseguindo acabar com ele. Eu brigo, brigo muito. A gente tem tido muitos problemas no nosso relacionamento, todos nós. Mas abandonar, ou esquecer, não dá. Teve alguns que resolveram, sim, se separar. Que nem filho se separa dos pais, mas não sendo nessa relação. Não acho que vão se separar de todo, no sentido de cortar relações, não se falarem mais, não querer saber um do outro. Duvido muito, na verdade. Mas às vezes a relação precisa mudar. E pode ser a melhor coisa feita. Mas a questão não é essa. Não a que tem se passado na minha mente, cada vez mais forte. A questão não é de relação com os outros. Esse meu problema é interno.
Sempre tive pais que sofreram muito com o que eu sofri. Tentavam ao máximo ser presentes, propiciar o que havia de melhor, acima do superficial sempre. Sempre fui, e ainda sou, muito grata por tudo isso. Mas o que eles diziam em relação a mim, nunca foi o suficiente... Porque os meus problemas não era com eles, vinham de fora. Sabe a criança que não consegue ter amigos? Não sabe brincar, não sabe conversar, e nem se fazer necessária... Não passei de uma dessas. E acho que não tenho vergonha de dizer que sinto alguns efeitos disso hoje. É, não faz tanto tempo assim... Sou bem nova. Mas já penso nisso. Posso um dia não ter mais esses efeitos... Espero que não, mesmo. Mas ainda sinto, e bem intensamente. Os efeitos são de ter crescido ouvindo as piores coisas que você tem em você. De ter sido formada com o pensamento de ser inferior aos outros. Na escola, aluna mediana, sem conversa, sem nada. Em casa, apesar de tentarem esconder isso de mim, a filha mais rebelde, impulsiva, menos estudiosa. Na vontade de arte, sem estímulo interno ou externo. Foi muito choro até entender que eu não era alguém que fazia qualquer diferença.
Sou nova, mas acho que tenho uma mente praticamente formada. Quando tive a oportunidade de fazer alguma amizade, me vi escondendo tudo o que pensava, dos outros, e de mim mesma. Fugi dos meus pensamentos e consegui conversar e tentar desenvolver uma personalidade um pouco mais confiante. A parte da confiança não deu tão certo... Mas consegui as amizades, e consegui crescer. Me tornei presente, e, pra algumas pessoas, quase importante, talvez. Pra mim, extremo avanço externo. Me tornei alguém no mundo. Mas todos os pensamentos que tinha sobre mim mesma, estavam ali. Sempre surgiam na mente, mas eu sempre tentava fingir que não.
"Alice é estabanada", "Alice não é tão bonita", "Alice, você precisa perder peso", "Alice, cresce", "Alice, assuma alguma responsabilidade" nunca foram esquecidos por ninguém. E todos faziam questão de me lembrar deles. Mesmo quando eu quase esquecia (ou assim fingia), alguém fazia questão de voltar com o assunto. E eu comecei a sentir a necessidade de ser alguém. De ser diferente de quem eu não gostava, mas também não tão igual a quem eu gostava, pra ser gostada por ser alguém que era quase eu. Mas ainda não tinha eu. Porque eu precisava de gente pra seguir, gente pra me apoiar. Brega, estranha, sem o mínimo de inteligência, encontrei dificuldades, até entender que, assim, continuaria a ser só alguém, não a Alice que eu queria ser.
Quem eu queria ser? Queria ser melhor. Queria poder olhar pra todos os comentários que foram e os que eram feitos e dizer "Isso aconteceu, mas não sou mais. Deixa isso pra trás.". Seria a minha maior conquista. Me tornar alguém fisicamente atraente, inteligente, que fizesse coisas úteis e bonitas. Alguém que traria orgulho para os mais próximos. Quem não quer, né? Comecei na tentativa... E ainda estou. Não me vejo como alguém fisicamente atraente. Ainda estou um pouco longe disso, inclusive... Também não consegui me tornar inteligente. Dessas partes, entendi que não tem mais jeito a não ser aceitar, ou mudar o meu olhar. Aceitar é o mais fácil. A parte de fazer coisas úteis e bonitas... Ainda estou na tentativa. Taí o que eu ainda posso desenvolver, melhorar, o que tenho tentado.
Me assumi. Meu próximo passo é conseguir querer viver não só por essa pessoa, mas também por mim. Todo esse o texto foi pra explicar que, se essa pessoa não tivesse aparecido pra mim, eu não estaria mais tentando me melhorar. Estou quase certa de que teria desistido de mim. Todo esse texto foi pra agradecer essa pessoa por todo o amor, o carinho, a presença e o apoio que ela me dá. Foi também pra assumir de vez que o meu caminho é longo; e pra me lembrar que eu não tenho de desistir dele por causa disso. Hoje, me apaixonei de novo. E hoje, decidi viver dando o meu melhor.